segunda-feira, 24 de setembro de 2012

fitoterapia e medicina chinesas











Queridos Calouros da MTC

Quando a gente vislumbra algo que possa explicar a nossa vida, os nossos sentimentos, as nossas somatizações...ficamos ávidos para querer saber sempre mais. Ficamos empolgados em saber as fórmulas da alegria, do sucesso.....os protocolos que nos levem à saúde perfeita....e as receitas anti-estresse que aumentam nossa vitalidade e técnicas para a longevidade.
Temos todo o direito sobre esse legado ainda mais que a Unesco, declarou em 2011, que a Acupuntura e Moxabustão são patrimônios culturais da humanidade. Não há exclusividade! Só na mente de alguns homens cabe a idéia de que possam tomar para si um legado de 5 mil anos.
E daí, começa um processo de estudos, de mudança de padrões e mentalidade para entender a Medicina Chinesa. Como fica muito difícil entender o que os sábios mestres taoístas diziam, nos limitamos a aprender alguns ensinamentos básicos e tentar decorar pontos de acupuntura, protocolos, tratados e convenções.
E ficamos repetindo o que nossa mente conseguiu absorver durante todo o tempo sem nos importar da origem disso tudo. E assim não damos espaço para irmos mais além do que simplesmente as teorias básicas que recheiam a maioria dos livros disponíveis.
Porque as energias perversas são chamadas de “os 5 demônios”? Porque não se fala muito da 2ª linha do meridiano da Bexiga como sendo pontos espirituais que podem nos levar a um equilíbrio perfeito? Porque ninguém comenta sobre os sonhos que temos quando dormimos se eles podem revelar padrões excessos ou deficiências?
Energia Qi, Energias Yin e Yang, Essência, Meridianos, Shen, Gan, Hun, Po, Pi......onde estão todas essas energias se não as vejo? Então comecemos a observar mais profundamente tudo ao nosso redor, como a Natureza se comporta e tentarmos nos engajar nesse belo movimento do Tao.
E fazendo as leituras silenciosas querendo sempre um caminho além das fronteiras conhecidas me deparo com um texto que exemplifica bem de onde se originou a MTC e a fitoterapia; e como o homem foi digerindo todo esse legado e tentando explicar e racionalizar toda essa sabedoria, mesmo que para isso perdesse a essência de uma cultura tão sábia.


Texto extraído do CD do prof. Efraim – Acupunturabrasil.org
A fitoterapia chinesa é tão antiga que sua história se confunde com a história da própria Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Até muito recentemente, pouco se conhecia a respeito da forma de medicina praticada na China antes da compilação do Clássico do Imperaor Amarelo (Huang di nei jing). Algumas poucas evidências mostram que por volta de 2000 a.C. essa medicina era bastante diferente daquela que conhecemos hoje. Naquela época, a tarefa de curar era da responsabilidade de shamans, em sua maioria do sexo feminino que, se vestindo com indumentárias que os tornava parecidos com os pássaros, faziam evocações e praticavam rituais de cura. Foi após a compilação do Nei jing que MTC começou a tomar os contornos que ela tem nos dias de hoje.
O Nei Jing, cuja autoria é desconhecida, foi compilado entre os anos de 200 a.C. e 100 a.D., é dividido em duas partes, o Su Wen e o Ling Shu, e introduz as bases filosóficas e teóricas da MTC. No Nei Jing, matérias como saúde e doença são descritas como sendo fenômenos naturais, resultado da interação do indivíduo com o ambiente que o circunda. Embora mais dedicado a acupuntura, a fitoterapia, a orientação alimentar e a prática de exercícios físicos estão entre as modalidades terapêuticas nele citadas.
A descoberta de onze manuscritos nas escavações da tumba de Ma Wang Dui, em 1973, trouxe informações que mudaram a idéia que se tinha a respeito da medicina praticada na antigüidade. Estudos posteriores indicaram que esses textos, escritos sobre a seda e que não faziam parte da cadeia de transmissão de conhecimento médico, foram concebidos por volta de 1065 a.C. – 771 a.C. Alguns desses trabalhos apresentam discussões sobre exercícios físicos, dietas alimentares e terapias de canais, na forma de moxabustão. O mais importante desses textos é exatamente um tratado farmacológico conhecido como Prescrições para Cinqüenta e Duas Doenças (Wu shi er bing fang). Neste trabalho, substâncias medicinais e poderes sobrenaturais são combinados e utilizados de uma forma totalmente diferente daquela conhecida pela tradição médica da época. Mais de 250 substâncias, similares às encontradas em tratados fitoterápicos posteriores, são listadas com o objetivo de, junto com encantamentos, espantar maus espíritos e demônios.
A partir do final da dinastia Han (25-220 a.D.), época em que o Nei Jing recebeu suas mais importantes contribuições, é que a tradição fitoterápica chinesa realmente se inicia com a publicação do livro conhecido como O Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro (Shennong ben cao jing) e do Tratado do Frio Nocivo (Shang han lung), do estudioso Zhang Zhong Jing. O trabalho de Zhang Zhong Jing se tornou a fonte de todos os manuais de fórmulas fitoterápicas e o Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro, o primeiro tratado a se concentrar na descrição individual das substâncias medicinais.
O Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro contém um total de 365 entradas, uma para cada dia do ano. 252 das substâncias nele citadas são de origem vegetal, 45 de origem mineral e 67 substâncias de origem animal. O termo “propriedade” das substâncias medicinais (referindo-se apenas aos métodos de preparo de cada substância) aparece pela primeira vez no seu prefácio. Tao Hong Jing mais tarde, dividiria as substâncias em “superiores”, “médias” einferiores”. As substâncias “superiores” nutririam a vida, as “médias” os tipos constitucionais (xing) e as “inferiores” seriam utilizadas no tratamento das patologias. Cada substância é avaliada pôr sua característica de sabor (wei), de temperatura (qi) e seus efeitos medicinais são descritos em termos da sintomatologia apresentada. A utilização de cada substância baseia-se somente em suas propriedades terapêuticas e não em seus supostos poderes sobrenaturais.
A partir deste ponto, a fitoterapia desenvolve-se através da adição contínua de novas substâncias, junto a uma reavaliação das substâncias já conhecidas, e através da elaboração de elos entre as teorias da MTC e os efeitos clínicos empiricamente observados dessas substâncias.

O Desenvolvimento da matéria médica
A farmacopéia chinesa vem sofrendo modificações e atualizações pôr pelo menos dois mil anos. A adição de novas substâncias é resultado da introdução, na tradição oficial, de substâncias de conhecimento popular não só da China mas de diversas partes do mundo. Muitas das substâncias empregadas hoje na MTC são oriundas de lugares como o sudeste da Ásia, da Índia, do Oriente Médio e das Américas.
A primeira matéria médica a surgir depois de Tao Hong Jing foi, A Nova e Revista Matéria Médica (Xin xiu ben cao - 659 A.D.), também conhecida como A Matéria Médica de Tang (Tang ben cao) por ter se tornado a farmacopéia oficial da dinastia Tang. Ela contém 844 entradas e foi a primeira matéria médica ilustrada de toda a China. O trabalho de Tang Shen Wei, conhecido como Matéria Médica Arranjada de Acordo com os Padrões de Desarmonia (Zheng lei ben cao - 1108 A.D.) se tornou a principal matéria médica utilizada na dinastia Song (960 – 1279 A.D.) e lista 1.558 substâncias. O mais celebrado livro sobre fitoterapia da antigüidade, A Grande Matéria Médica (Ben cao gang mu) foi editado postumamente em 1596 A.D. e traduzido para diversos idiomas. Das 1.892 substâncias nele listadas, 1.173 são de origem vegetal, 444 de fontes animais e 275 são de origem mineral. A tradição continua até a era moderna com a publicação, em 1977, de um projeto de 25 anos da escola de Jiangsu entitulado Enciclopédia das Substâncias da Medicina Tradicional Chinesa (Zhong yao da ci dian). Este livro lista 5.767 substâncias medicinais e é a compilação definitiva da tradição fitoterápica da China até os dias de hoje.

O Desenvolvimento da teoria
A principal diferença entre o Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro e textos mais modernos é que não há, no texto mais antigo, nenhuma tentativa de estabelecer uma conexão teórica entre as propriedades das substâncias (temperatura, sabor, etc.) e seus efeitos terapêuticos. Embora o Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro mencione os cinco sabores em seu prefácio, o seu significado não é totalmente explicado. Somente no final da dinastia Sui (581 – 618 a.D.) e início da dinastia Tang (618 – 907 a.D.) é que tais conexões começam a ser feitas, com a publicação do livro Matéria Médica das Propriedades Medicinais (Yao xing ben cao). Este trabalho discute a combinação, a reação, o sabor, a temperatura, a toxidade, a função, as principais aplicações clínicas, o processamento e a preparação das substâncias nele listadas.

Um comentário:

  1. Achei este blog extraordinário. Sidnei Nishi obrigado sinceramente por partilhar tanto conhecimento. Adorei!

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