Queridos Calouros da MTC
Quando a gente vislumbra algo que
possa explicar a nossa vida, os nossos sentimentos, as nossas
somatizações...ficamos ávidos para querer saber sempre mais. Ficamos empolgados
em saber as fórmulas da alegria, do sucesso.....os protocolos que nos levem à
saúde perfeita....e as receitas anti-estresse que aumentam nossa vitalidade e
técnicas para a longevidade.
Temos todo o direito sobre esse
legado ainda mais que a Unesco, declarou em 2011, que a Acupuntura e Moxabustão
são patrimônios culturais da humanidade. Não há exclusividade! Só na mente de
alguns homens cabe a idéia de que possam tomar para si um legado de 5 mil anos.
E daí, começa um processo de
estudos, de mudança de padrões e mentalidade para entender a Medicina Chinesa. Como
fica muito difícil entender o que os sábios mestres taoístas diziam, nos
limitamos a aprender alguns ensinamentos básicos e tentar decorar pontos de
acupuntura, protocolos, tratados e convenções.
E ficamos repetindo o que nossa
mente conseguiu absorver durante todo o tempo sem nos importar da origem disso
tudo. E assim não damos espaço para irmos mais além do que simplesmente as
teorias básicas que recheiam a maioria dos livros disponíveis.
Porque as energias perversas são
chamadas de “os 5 demônios”? Porque não se fala muito da 2ª linha do meridiano
da Bexiga como sendo pontos espirituais que podem nos levar a um equilíbrio
perfeito? Porque ninguém comenta sobre os sonhos que temos quando dormimos se
eles podem revelar padrões excessos ou deficiências?
Energia Qi, Energias Yin e Yang,
Essência, Meridianos, Shen, Gan, Hun, Po, Pi......onde estão todas essas
energias se não as vejo? Então comecemos a observar mais profundamente tudo ao
nosso redor, como a Natureza se comporta e tentarmos nos engajar nesse belo
movimento do Tao.
E fazendo as leituras silenciosas
querendo sempre um caminho além das fronteiras conhecidas me deparo com um
texto que exemplifica bem de onde se originou a MTC e a fitoterapia; e como o
homem foi digerindo todo esse legado e tentando explicar e racionalizar toda
essa sabedoria, mesmo que para isso perdesse a essência de uma cultura tão
sábia.
Texto extraído do CD do prof.
Efraim – Acupunturabrasil.org
A
fitoterapia chinesa é tão antiga que sua história se confunde com a história da
própria Medicina Tradicional
Chinesa (MTC). Até muito recentemente, pouco se conhecia a respeito da forma de medicina praticada na China antes
da compilação do Clássico do Imperaor Amarelo (Huang di nei jing). Algumas poucas
evidências mostram que por volta de 2000 a.C. essa medicina era bastante diferente daquela que
conhecemos hoje. Naquela época, a tarefa de curar era
da responsabilidade de shamans, em sua maioria do sexo feminino que, se
vestindo com indumentárias que os
tornava parecidos com os pássaros, faziam evocações e praticavam rituais de cura. Foi após a compilação do Nei
jing que MTC começou a tomar os contornos que ela tem nos dias de hoje.
O Nei
Jing, cuja autoria é desconhecida, foi compilado entre os anos de 200 a.C.
e 100 a.D., é dividido em
duas partes, o Su Wen e o Ling Shu, e introduz as bases
filosóficas e teóricas da MTC. No Nei
Jing, matérias como saúde e doença são descritas como sendo fenômenos naturais, resultado da interação do
indivíduo com o ambiente que o circunda. Embora mais dedicado a acupuntura, a fitoterapia, a
orientação alimentar e a prática de exercícios físicos estão entre as modalidades terapêuticas nele
citadas.
A
descoberta de onze manuscritos nas escavações da tumba de Ma Wang Dui,
em 1973, trouxe informações
que mudaram a idéia que se tinha a respeito da medicina praticada na antigüidade. Estudos posteriores indicaram
que esses textos, escritos sobre a seda e que não faziam
parte da cadeia de transmissão de conhecimento médico, foram concebidos por
volta de 1065 a.C. – 771 a.C.
Alguns desses trabalhos apresentam discussões sobre exercícios físicos, dietas alimentares e terapias de canais, na
forma de moxabustão. O mais importante desses textos é exatamente um tratado farmacológico
conhecido como Prescrições para Cinqüenta e Duas Doenças (Wu shi er bing fang). Neste trabalho,
substâncias medicinais e poderes sobrenaturais são
combinados e utilizados de uma forma totalmente diferente daquela conhecida
pela tradição médica da época.
Mais de 250 substâncias, similares às encontradas em tratados fitoterápicos posteriores, são listadas com o objetivo de,
junto com encantamentos, espantar maus espíritos e demônios.
A
partir do final da dinastia Han (25-220 a.D.), época em que o Nei Jing recebeu
suas mais importantes
contribuições, é que a tradição fitoterápica chinesa realmente se inicia com a publicação do livro conhecido como O
Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro (Shennong ben cao jing) e
do Tratado do Frio Nocivo (Shang han lung), do estudioso Zhang Zhong Jing. O trabalho de Zhang Zhong Jing se
tornou a fonte de todos os manuais de fórmulas fitoterápicas
e o Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro, o primeiro tratado
a se concentrar na
descrição individual das substâncias medicinais.
O Clássico
da Matéria Médica do Divino Fazendeiro contém um total de 365 entradas, uma para cada dia do ano. 252 das
substâncias nele citadas são de origem vegetal, 45 de origem mineral e 67 substâncias de origem animal. O
termo “propriedade” das substâncias medicinais (referindo-se
apenas aos métodos de preparo de cada substância) aparece pela primeira vez no
seu prefácio. Tao Hong
Jing mais tarde, dividiria as substâncias em “superiores”, “médias” e “inferiores”. As substâncias “superiores”
nutririam a vida, as “médias” os tipos constitucionais (xing) e as “inferiores” seriam
utilizadas no tratamento das patologias. Cada substância é avaliada pôr sua característica de sabor (wei), de
temperatura (qi) e seus efeitos medicinais são descritos em termos da sintomatologia apresentada. A
utilização de cada substância baseia-se somente em suas propriedades terapêuticas e não em seus
supostos poderes sobrenaturais.
A
partir deste ponto, a fitoterapia desenvolve-se através da adição contínua de
novas substâncias, junto a
uma reavaliação das substâncias já conhecidas, e através da elaboração de elos entre as teorias da MTC e os efeitos
clínicos empiricamente observados dessas substâncias.
O
Desenvolvimento da matéria médica
A
farmacopéia chinesa vem sofrendo modificações e atualizações pôr pelo menos
dois mil anos. A adição
de novas substâncias é resultado da introdução, na tradição oficial, de substâncias de conhecimento popular não só
da China mas de diversas partes do mundo. Muitas das
substâncias empregadas hoje na MTC são oriundas de lugares como o sudeste da
Ásia, da Índia, do Oriente
Médio e das Américas.
A
primeira matéria médica a surgir depois de Tao Hong Jing foi, A Nova e
Revista Matéria Médica (Xin
xiu ben cao - 659 A.D.), também conhecida como A Matéria Médica de Tang (Tang ben cao) por ter se tornado a
farmacopéia oficial da dinastia Tang. Ela contém 844 entradas e foi a primeira matéria médica
ilustrada de toda a China. O trabalho de Tang Shen Wei, conhecido como Matéria Médica Arranjada
de Acordo com os Padrões de Desarmonia (Zheng lei ben cao - 1108 A.D.) se tornou a
principal matéria médica utilizada na dinastia Song (960 – 1279 A.D.) e lista 1.558 substâncias. O mais
celebrado livro sobre fitoterapia da antigüidade, A Grande Matéria Médica (Ben cao gang
mu) foi
editado postumamente em 1596 A.D. e traduzido para
diversos idiomas. Das 1.892 substâncias nele listadas, 1.173 são de origem
vegetal, 444 de fontes animais e 275
são de origem mineral. A tradição continua até a era moderna com a publicação, em 1977, de um projeto de 25
anos da escola de Jiangsu entitulado Enciclopédia das Substâncias da Medicina Tradicional
Chinesa (Zhong yao da ci dian). Este livro lista 5.767 substâncias medicinais e é a compilação
definitiva da tradição fitoterápica da China até os dias de hoje.
O
Desenvolvimento da teoria
A
principal diferença entre o Clássico da Matéria Médica do Divino Fazendeiro e
textos mais modernos é que
não há, no texto mais antigo, nenhuma tentativa de estabelecer uma conexão teórica entre as propriedades das
substâncias (temperatura, sabor, etc.) e seus efeitos terapêuticos. Embora o Clássico da
Matéria Médica do Divino Fazendeiro mencione os cinco sabores em seu prefácio, o seu significado
não é totalmente explicado. Somente no final da dinastia
Sui (581 – 618 a.D.) e início da dinastia Tang (618 – 907 a.D.) é que tais
conexões começam a ser
feitas, com a publicação do livro Matéria Médica das Propriedades Medicinais (Yao xing ben cao). Este trabalho
discute a combinação, a reação, o sabor, a temperatura, a toxidade, a função, as principais aplicações
clínicas, o processamento e a preparação das substâncias
nele listadas.
Achei este blog extraordinário. Sidnei Nishi obrigado sinceramente por partilhar tanto conhecimento. Adorei!
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